terça-feira, 31 de agosto de 2010

OBSESSÃO CARNAL


Lancinante tentação do além
Veio ao mundo dos homens
Gracejar d’almas, com desdém
Transmutar sábios em selvagens.

Força alienígena, por que vens?
Vens a nós por graça; sem porém!
Espírito errante também me tens
Côa força que exerces noutro alguém.

Aqui, lá, ali, acolá, em toda a parte
Desejo, tentação, anseio de vaivém
Bom neste Mundo ou em Marte

Como bom é em Vênus também.
Com força, com fé, vimos rogar-te:
“Não nos deixeis cair em tentação, amém”!

(edvaldo pereira dos campos netto).

RODA-MUNDO


Quem veio ao mundo para rimar?
Verso!
Prosa!
A busca da palavra perfeita
(Que não vem à cabeça).
Concentra-se em palavras perfeitas?
Como um suicida confabulando seu autoflagelo?
Que palavra eleger?
Verso, antiverso, verso...
... segue seguindo segura sem segredo... só sua!
Rima, risos, rios, ritmo, ruas, ritos...
Sem métrica roda-mundo, desvairado, louco, alucinado
No fim, as palavras serão (mesmo) esquecidas
Nada se cria, nada se transforma, tudo se perde.

(edvaldo pereira dos campos netto)

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

CALA-TE



Quantas vezes deveria ter me calado?
Haveria de ter sido mais feliz
Ou menos frustrado
Ou errado.
“Você calado já está errado”,
Soberbo e cheio de si, diz o ditado.
Ditado que devia ter calado.

Todos calados.
Calem-se!!!
Quantas vezes deveria ter me calado?
Todos deviam calar:
O Presidente, o Galvão, e os Cães na madrugada fria...
... o Padre pedófilo, o Bebê do Vizinho e a Poesia.
Gritariam todos em grave sonido:
CALA-TE poema sem sentido!!!

(edvaldo pereira dos campos netto)

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

PERTURBAÇÃO ESPIRITUAL



Ferida fétida aberta na alma
Causa náuseas ao perispírito.
Sangria suave, lenta, acalma
Os sofrimentos do espírito.

Sofrimento útil, perturbação!
Não há vida no corpo (é morto).
Estado lento desta separação
Quando a alma deixa o corpo.

Dor sentida pelo estado vital
Depurado na alma, no momento
Que cessa-se o elo - é fatal

Vem angústia, agonia moral
Aumenta seu atordoamento
Até que se liberta por total!


(Baseado nas perguntas 163 e 164 de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec)

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

DE PABLO NERUDA

Havia prometido a mim mesmo que desde a criação do blog nunca postaria aqui poema que não fosse meu, próprio. Mas ao me deparar com esta maravilha de Pablo Neruda me rendi; não posso deixar de dar publicidade a uma obra prima dessas. 
Dentre tantos, talvez esse seja o poema mais expressivo do saudoso poeta chileno. 
Escorreram-me lágrimas ao lê-lo; certamente escorrerão lágrimas nos olhos da mulher que ouvi-lo; declamado baixinho, pausadamente, em seu ouvido.














"Cuerpo de mujer, blancas colinas, muslos blancos, 
te pareces al mundo en tu actitud de entrega.
Mi cuerpo de labriego salvaje te socava
y hace saltar el hijo del fondo de la tierra.

Fui solo como un túnel. De mí huían los pájaros
y en mí la noche entraba su invasión poderosa.
Para sobrevivirme te forjé como un arma,
como una flecha en mi arco, como una piedra en mi honda.

Pero cae la hora de la venganza, y te amo.
Cuerpo de piel, de musgo, de leche ávida y firme.
¡Ah los vasos del pecho! ¡Ah los ojos de ausencia!
¡Ah las rosas del pubis! ¡Ah tu voz lenta y triste!

Cuerpo de mujer mía, persistiré en tu gracia.
Mi sed, mi ansia si límite, mi camino indeciso!
Oscuros cauces donde la sed eterna sigue,
y la fatiga sigue, y el dolor infinito".

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

PARA CIBELE OLIVEIRA



Olho dentro de mim e conjuro
Rompo aliança, perjuro.
Olho o céu,
Busco Estrela,
Lua,
sentimento puro;
 - Já não há!

Vê-se apenas no escuro.
O passado me foi duro,
O presente inseguro.


“O  hoje é apenas um furo no futuro
Por onde o passado começa a jorrar”.

Eu, cá, obscuro,
Não sei se pulo (voaaaaar)
Ou se continuo em cima desse muro.


(citação da música Banquete de Lixo, composição de Raul Seixas; em: A Panela do Diabo, cantada com Marcelo Nova).

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

SONETO AOS OLHOS SEUS




Sim, tudo eu quero nessa vida
A flor, amor, o mar, a lua
Nem que venha oculta, escondida
Quero a luz, o luar, a boca sua.

Tanto quero, busco a emoção
Procuro, acho, encontro, perco
Encho o peito, pobre coração
Que passa a vida, fecha-se o cerco.

Tudo quero desse brilho, olhar
Hipnotizado me quedo quando vem
A energia que me faz achar

Com certeza, fidúcia, sem desdém
Da verdade popular a ditar
“Quem tudo quer nada tem”.

POBRES RIMAS DE UM MÍSERO AMOR

Triste o fim de um sonho meu
Do ego que em pedaço enterneceu.
Tristeza bate forte n`alma minha
Ao término daquilo que me convinha.

Tudo fui, tanto fiz, vivi
Cai da nuvem de sonho que cresci.
Pedaços de mim foram, levantaram
No colo seu se fizeram, recriaram.

Mas um dia tudo terminou
Ferida em meu peito se formou
Quando você disse que não amava
Que você também morria, vegetava.

Deu-se, então, o fim de nós dois
D`algo que nem chegou a ser, pois,
Uma grande história, enorme amor
Mas sim um sonho, paixão, ardor.

A história sem começo (nem fim)
Que era forte, quase tudo pra mim,
Tornou real, fez verdade aparecer
Quão errada minha forma de viver.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

SILENCIOSO ABISMO




SILENCIOSO ABISMO

Silencioso som do desalento
Fere a alma caprichosa do meu ser.
Ser aterrorizado coa doença
 - punhalada mortal!
Chora e sangra e fenece
E grita:
Não cala!!! Silencioso cinismo!!!

Silenciosa tarde em tormento
Ferida profunda a doer.
Ser que confia e que tem crença
 - punhalada moral!
Chora aos Santos em prece
E grita:
Não mais!!! Tira-me da beira do abismo!!!

(edvaldo pereira dos campos netto)

MINHA RUA





Insuportável calmaria
Na rua onde moro.
Cães ladram aos ladrões
Uivos noturnos avisam o perigo
- que ronda – ao longe.
Diuturnamente crianças
Gritam, correm, choram
Na rua onde eu moro.
 (Deus abençoe todas as criancinhas
 que brincam de ferir).
Na sua rota
Os aviões passam de não sei onde
 - e passam...
Na rua onde eu moro
é tamanha a calmaria!
Calmo... deste silêncio que cala!!!
Seus passos, todavia,
Não andam na rua onde vivo.
E o silêncio jaz em paz
Na rua onde eu moro.

(Dedicado à memória do imortalizado poeta Mário Quintana, que formou meu gosto literário, ainda na infância. Na fotografia, o local que sempre sonhava conhecer, e conheci: o Memorial Mário Quintana, em Porto Alegre).

SILÊNCIO VIRTUAL

O silêncio do seu digitar
Dói em mim como o apertar na ferida
É-me certeira dedada no olho.
Seu digitar tem um tec, tec, toc, tec
Que não me toca
- Virtual figura interplanetária!
Toque em mim
E tecle sonoramente minh’alma .
Toc, toc, toc...
 - cantará o coração! 

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

SEM CAMINHO






Queria querer desse mundo fugir
Agir sem limite, para livre morrer
Sem ser, como um louco eu agiria
Sem estar, quereria apenas sumir
Sem nada que me pudesse deter
Mas caso quisesse: - pra onde iria?

INSANIDADE

Insanidade contagiante
Sentida aos quatro cantos
Em todos os ventos.
Tomado de surto
Mania,
Depressão,
Euforia...
- Passa-me pelo beijo o vírus da sua doença...
...e eu me interno na vida sua...

DESEJO

DESEJO

Eu já quis, como tu,
Morrer.
Dei carne ao urubu,
Comer.
Quis, confesso,
Declaro.
Desejei o regresso,
Tão raro.
Almejei tanto o fim,
C'ardor.
Quisera morrer, sim,
D’amor.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

EPÍSTOLA AO INIMIGO



Mui sincero, grato e amiúde
Venho abordar para consigo
Quão seu ódio é minha saúde
Agradecendo o que fez comigo.

Todo nosso rancor é atitude
Para evoluirmos sabendo
Que o amor vai crescendo
Tomando-nos com plenitude.

O amor, a antítese do mal
Com a sua força celestial
Põe-nos em confrontação

Testando nosso coração
A ofertar outra face, e também,
Sempre retribuir mal com bem.

(edvaldo pereira dos campos netto)

DESAFIO

            

O amor é isso, o amor aquilo outro
E o casamento aqui, ali, acolá
Impõem-nos desde a escola
A não viver por si, mas noutro.

O amor pairando vagamente no ar
Tem que estar sempre dentro de nós
Se não, filho: - “quem irá olhar por vós”?!
- “Tendes que ceder, tendes que entregar”!

Sei, entendo e vejo tudo o que é dito.
O amor isso, casamento aquilo; eis a trama!
Mas, eu desafio: diga-me onde está escrito
Que devemos viver com quem não se ama?

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

MARÉ NOSSA DE CADA DIA



No céu, gigante, imponente, faz-se bela a lua cheia
Estrelas ofuscadas reclamam: - Egoísta!
Faz do céu uma grande ritmada poesia
Rimando-se às sobras dos corpos noturnos.
Ilumina o etílico andar da boemia
- proteção necessária que cambaleia.
Até adentra quadriculada na cadeia!
Crescente, dá esperança
À agonia
É tinto vinho da santa ceia
Novo sangue pulsa na veia
Daquele que sofre,
que peleia.
No céu ao meio-dia
Gera espanto indecifrável
Indefinível.
Afinal,
Como pode?
Luar no meio do dia?
Nova é a lua invisível ao olho humano
Maré que levanta e baixa com metros de luar
- ou de saudades -
O vai e vem que não se sabe donde vem.
Escuridão, trevas e contentes estrelinhas sorridentes!
Minguante da desesperança
O negro aproximado
Escuro que virá
O salário minguando
A fome que ronda.
[...].
Vinte e nove dias de uma eterna reprodução.
A vida segue, marés sobem, descem, param.
E ninguém se importa com a solitária luazinha
Sozinha,
tão longe,
lá no céu.

(edvaldo pereira dos campos netto)

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

TEREZA DE CALCUTÁ


Dói-me, mas não me doo.

Necessário doar, bem sei

Levantar, postar em vôo

D´alto olhar, ver Sua Lei.


Olhar igual a todo o Ser

Comprazer-se co´irmão

Dar-se simples, sem ser

egoísta, tomado de paixão.


Mostrou toda sua gentileza,

Um exemplo em que se ater,

Espírito tão forte em sutileza


Diante da morte, ou de morrer;

Disse modesta, Madre Tereza:

“Amar é doar-se até doer”.

ROSA


Morreria por uma rosa.
Daria a vida pelas pétalas aveludadas,
Pelo sentido aguçado do toque em sua tenra maciez.
Aos espinhos que me ferem os dedos,
A estes
(Ahhhh, estes!!!),
A eles dou meu sangue.
Espinho e beleza: 
sentido da vida!!!

ESTRANHO AMOR

Estranha frase, mas

Não lhe quero por completo.

Não desejo como almejam os possessivos.

Quero assim, simples, puro,

Sem interesses.

Quero amar na forma essencial

Sem motivo, sem finalidade.

Amo-lhe desta forma,

Sem você, sem presença,

Sem toque.

No coração tão somente,

No meu delirante e utópico sentimento.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

PERDÃO


Totalmente a mercê da providência

Apresento amiúde o pobre coração

Na necessidade da sua indulgência

Por seu afeto, num pedido de perdão.


Coração fraco, canhoto e amargurado

Clama, implora, com dependência

Apagar todos os erros do passado

Propondo por uma nova previdência.


Afoito, atônito, cego, em clemência

Bate no peito esta forte remissão

Na esperança desta dependência


Deixar de existir com a paixão.

- Fruto dos pulsos da reverência,

Impulsos que transbordam o coração.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

CHECK-UP

CHECK-UP

Impregnado de irreversível tédio

A vista cansada passo no jornal

Idem como em bula de remédio

Por pistas deste sofrimento moral.


Passo as tardes, meses, passo dias

Às vezes nem mesmo sei se me passo

Passo aguardando passar nas veias

O sangue hora à hora - é o que faço.


Às vezes leio tudo - até asa de avião

Quando esta leitura não me basta

Leio lábios e leio mentes, até avistar


Coisas que somente minha própria visão

De poeta sintomático de mim (e sarcasta)

Enxerga este meu transtorno bipolar .


(edvaldo pereira dos campos netto).

SUICIDA

Ismália, enlouquecida em torre alta

Não fazes idéia que o belo luar

Está nos olhos dos que sentem falta

Desses olhos que só querem o mar.


Julieta, apaixonada e desvairada

Transformou a vida com veneno

Fez do amor, tudo, sua morada

Esquecendo daquilo que é sereno.


O personagem está é na vida

No peito, forte, que arranca

As lágrimas que escorrem na ferida


Levadas pela maré, na espuma branca.

Gera tristeza incompreensível o suicida,

Como na poesia de Florbela Espanca.


(edvaldo pereira dos campos netto)

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

INSÔNIA


Choveu muito esta noite.

Cada pingo,

Cada gota,

Foi-me um sonho derramado.

Ah, como choveu!!!

Sonhos molhados!!!

Ou roubados?

– Não importa!

Choveu muito esta noite.

Abençoadas lágrimas celestiais!!!

Ocultam o tilintar das horas,

E os latidos dos cães ao longe.

VAZIO

Não caibo dentro de mim mesmo

- cérebro adstrito, oculto, mouco

Ora cego, surdo; ora vivo, a esmo

Atônito a tudo, central dum louco.

Não cabe em mim força ou razão

Nem sentimento definido comum

Expressão já não existe, então

Não me toca ensejo, motivo algum.

Gritam nas esquinas os consorte

Expõem seu amor, vivem a alegria

Enquanto outros choram pela morte

Curto os acordes harmônicos em eufonia

Que nesta cabeça me é o sul ou norte

Ora é calmaria; normalmente euforia!


(edvaldo pereira dos campos netto)