segunda-feira, 26 de julho de 2010

DESCULPAS


Impressiona a frieza da quietude

Ódio e repugnância com sentido

Sentida contra minha débil virtude

Aniquilando-me deveras esmorecido.


O silêncio do gesto me é o que fere

E atormenta o coração a muito aflito

Castigado, morto, que prefere

Quedar inerte só no que é escrito.


De ti sequer vêm escritos, versos,

Transformando sonhador em poeta

Transformando esta dor em culpa.


Trancado em mim mesmo converso

Com minh’alma; e publico na vinheta

Súplica de perdão, pedido de desculpa.

VÍTIMA DO CIÚME

Vítima de si mesmo é o ciumento
Que desconfia de tudo entrementes
Em que o amado vive um momento
Não está sob seus olhos (ausentes).

Vitimado pela fúria que lhe toma
Põe no outro culpa de seus medos
Peleia, tropeça, põe em coma
Os ardilosos ínterins de seus segredos.

Vitima aquele que diz – e jura – amar
Pela pura liberalidade da convicção
Que o coloca sempre a aniquilar
O objeto da sua oculta obsessão.

Vítima de tudo e todos é o dito cioso
Que tomado por forte insegurança
Não percebe, não vê, quão valioso
É o inexistente hífen da autoconfiança.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

LOUCURA

Sonhei que ela estava louca

Que tinha perdido o juízo.

Ainda bem que os sonhos

Tudo aceitam.

Nos sonhos

montanhas viram circos,

a vida passa em preto-e-branco,

e podemos – até – voar!

Grande surpresa,

Pela manhã,

Ao defrontar novamente com a loucura.

(ela estava louca dentro do poema).

Quão bom é que a poesia tudo aceita...

- Até sonhos!

(edvaldo pereira dos campos netto)

terça-feira, 20 de julho de 2010

LUAZINHA ENVERGONHADA

Adoecida de desejo ávido

A luazinha oculta solícita

Contundente vontade ilícita

Asilada em seu tom pálido.

Cintilante vê-se a centelha

Do alto iluminando a rua.

Envergonha-se a bela lua

Por isso nasce vermelha.

Embaraço de tudo e de si

Acanhada, solta-se e sorri

Quando oculta pelas nuvens

E não é mirada pelos homens

Põe-se linda, fresca, reluzente

Pois no fundo está contente.


(edvaldo pereira dos campos netto)

BEIJO

Doce aroma, maciez úmida dum caqui

Sentido em contado coa quente boca

Perfaz na memória tanto lá como aqui

Esta sensação grandiosa e recíproca.

Emoção crescente, toque contagiante

Coloca a língua em afeição enamorada

Os lábios em coma, amortecidos, ante

Ao doce aroma advindo dessa florada.

Perfeito como o contato do mar e a lua

Belo como o poente, soberbo entardecer

Sentimo-nos um no outro esta perpétua

Lembrança de nos entrelaçar, envolver

Quando minha alma uniu-se à alma sua

Vagando sem orientação em comprazer.


(edvaldo pereira dos campos netto)

ANSIEDADE

Anseia-se tudo na vida.

Preocupações, dúvidas!

E lá estamos nós, buscando significados.

Esquecem de viver! Buscam rimas em tudo!

Alprazolan antes, durante e depois...

O controle está na ciência, diriam ansiosos empiristas.

E as respostas, onde estarão?


(edvaldo pereira dos campos netto)

EGOÍSTA

Amo tanto e tanto lhe amo

Sinto tanto e tanto a quero

Que nada de si mais espero

Só meu amor é que reclamo.


Tão acamado meu sentimento

Que o mundo em volta não sinto

Apenas respiro meu instinto

De ter você a todo o momento.


Imploro-lhe, não me ame assim!

Não me ame acolá, aqui, agora

Pois sou assim desde outrora

E aceito esse amor só pra mim!



(edvaldo pereira de campos netto)