quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

SÓ DELA


SÓ DELA

Arde em mim a emoção de lhe ter
Do olhar que não é belo, mas doce
Da ternura no mirar, ao me ver
Como se o único no mundo fosse.

Deus Pai permitiu este bel-prazer
Concedendo-me, dando a satisfação
De com você eu casar e consigo viver
Em casa, na cama, n´alma, no coração.

O que mais precisa um homem ter
Da sorte de estar com você, assim,
Companheira sempre junto de mim?

Por isso peço: Deus, venha conter
O desejo e a tentação, para eu ser
Dela, só dela, de agora até o fim.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

MAU POEMA

Quando for poeta quererei
Fazer como tantos fizeram
Pelos versos que apaixonei
Poemas que me perfizeram.

Se uma dia eu puder compor
Espíritos tomarei prisioneiros
Com futuros sonetos de amor
Mal intencionados, traiçoeiros.

Os poetas que me cegaram
Serão lembrados em cada verso
De duplo sentido, controverso

Que dos densos umbrais tiraram
As palavras que me chocaram
E tornaram o amor perverso.

MEU CÉU


MEU CÉU

Visão celestial é tida de baixo para cima
Seu pular e saltitar alegre sobre a cama
Enrijece-me os nervos enquanto me anima
A ver-lhe ansiando ter em mim essa chama.

Dança frenética com o lingerie que usa
Com esta calcinha mínima de fio dental
Sabendo se mexer, deliciosa me abusa
Tem-me por dominado, escravo sexual.

A doçura mágica, quase ato de feitiçaria
Aproxima da boca seca seu gosto de mel
Bela cigana, rainha do sexo e da bruxaria

Põe-me escravo de si, dominado, ao léu
Dominado de tesão nessa nossa fantasia
Quererei sempre isso quando olhar pro céu.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

VENENO

Adocicado veneno que da boca suga
Acalma aumentando estado de vigília
Escorrido queixo que a língua enxuga
Derramado néctar na úmida virilha.

Envenenado nesta fragrância doce
Sacia em si mesmo frêmito espasmo
Segurando contra o êxtase precoce
Agitação ritmada até o orgasmo.

Esplendorosos sentidos aos odores
Dos corpos que unem e que suam
Até se fadigarem com suas dores

Que lhe dão sensação de que flutuam
E deslizam e pingam quentes suores
Doce viciante veneno que cultuam.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

DA ESQUECIDA INSPIRAÇÃO

Procuro alguma inspiração no passado
Para ver se falo um pouco de amor
Em algum fato que talvez tenha criado
Alguma cicatriz, lembrança, ou dor.

Vou fundo em busca deste estado
De agonia, de angústia ou ardor
Por uma estaca no peito cravado
Ou um prego no pulso, como for.

Mas não acho uma dorzinha sequer
Quanto neste peito nunca me doeu
Por esta ou aquela outra mulher

Que um dia achei ter no peito meu
Para inspirar um poema qualquer
Àquela que este peito já esqueceu.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

AVE NEGRA


Os montes do horizonte negros
E o céu azul radiante a brilhar
O vento na face, forte alinegro
Que ventila tudo a assoprar.

Estrada esbelta, guia tangente
Da maciez e suavidade das formas
De onde corre esta e aquela gente
Fundação dos pés, plataforma.

Caminhada longa e destemida
De passos firmes que já afaz
Hábito de uma nova perspectiva

Que inuma o que no passado jaz
Sem lágrima, choro e despedida
Para nunca mais olhar para trás.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

CENA


Há nestas cenas fortes indícios
De que de que tudo são mortes
Batendo às portas do início
De novos caminhos e nortes.

Cenas transmigradas para retina
Daquele que esperto teme
O barulho dos trens da colina
A dor que engole e não geme.

Pois em todos e em tudo
Vive o protagonista da cena
Com a fala ou o ato mudo

Da alma que vai, que acena
Que agradece o aplauso agudo
Desde melancólico ardente poema.


segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

BIPOLAR

Vontade
Falta demasiado nest’alma
Pois é calma
Dividida na metade.
Frio
Que no peito sente
Mesma da mente
Terreno livre, baldio.
Fútil
É sempre e quanto
Sobe ao peito em pranto
Sentindo-se inútil.
Vicioso
Faz-se quando apela
A esta ou àquela
Mão e braço piedoso.
Bom
Quando fora de si
Olha para o mal e ri
Entregando-se a esse dom.
Único
Perfaz tudo nessa vida
Quando já paga a dívida
Desfaz seu dom mediúnico.
Liberto
Estará do mundo
Depois de fecundo
Este lado encoberto.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

POETA V

Regulamentemos em profissão
Apurando a sua mais valia
Poeta dado a ter função
De levar beleza por poesia.

Poema em todo lugar ressoa
Como soa em mim um fado
Lembra muito ter amado
Essa ou aquela pessoa.

Por isso então um sindicato
Que venha a normatizar
Criar rima, algum aparato

Para valorizar o profissional
Pô-lo sempre fiel a cantar
Operário do lado emocional.

SAUDADE II



Falta-me qualquer lembrança
De um amor que não foi meu
Nasceu e cresceu em esperança
De poder recordar do que sofreu.

Fidelidade ao amor puríssimo
Foi-lhe fruto do íntimo, instinto
Do natural estado, limpíssimo
Latente como sente, como sinto.

Recordações talvez de outra vida
Quando nas almas ficou gravado
Desde o início, desde a partida

Desde o que é bom ou é maldade
Por isso tenho sempre perguntado
Donde vêm tais lágrimas de saudade?