Amei-te como a chuva que vem
Que despenca sem rumo
Levada pelos trilhos do inconsciente
Tomando acento em algum trem.
Eras a música de toda a poesia
A goteira da calha sobre o balde
Cheio de chuva e de lágrimas
Do abraço (o amasso) que envolvia.
Amei-te quando naquele vagão
Ao som das locomotivas ardentes
E da explosão de vapor de lágrimas
Pulsando em brasa de carvão.
As horas em trilhos corridas
Não cabem nas cheias vasilhas
Da nossa transbordante consciência
E caem no buraco das nossas feridas.
...
Escrito em 26/01/2012
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Escrito em 26/01/2012
" Ínterim"
ResponderExcluirVou deixar meus lábios sobre os teus esta madrugada.
Deixarei-me nua como uma rosa, sem espinho, entre teus pelos.
Juro não o ferir com palavras ásperas,
não transformar suspiros em agonia e silêncios em ironias.
Vou me abandonar em você como um náufrago ao mar,
sou a tua incógnita da qual tem mais certeza na vida,
e me quebrar como a onda na rocha do tronco desorientado
é natural, não tema;
não perco tempo quando busco seus grandes e verdes olhos sonolentos,
como uma errante que se guia pelo cruzeiro, à noite
Num louco navio.
É desígnio.
Sou menos que predadora ou presa,
em você eu sou apenas uma fêmea frágil,
quando treme de tesão,
sou cristais expostos a sismos em ilhas do pacífico.
Meu coração está cansado, todavia, indene, misteriosamente,
aos teus cuidados eternos e irresponsáveis.
E se você o machuca arrastando pelo asfalto
de vacilos e medos irascíveis,
perceba ao se olhar no espelho:
meu coração é o pássaro enjaulado dentro do teu peito vazio.
No ínterim, em que cuida de um frio e insosso coração ao lado,
o meu ufano e quente é teu; pulsando em desprezo,
você o nega, mas não muda, luta e chuta
Produz a própria debilidade
ao negligenciar a carne que traduz a tua também sensibilidade.
Esta madrugada tem a natureza da eternidade.
Sinto nosso beijo em palavras, nossa dança no silêncio do nada...
Esta noite boreal, em que recordo,
te afago de mansinho contra meu peito inflado de vontade...
É saudade.
Cibele
"Talvez
ResponderExcluirTalvez não ser,
é ser sem que tu sejas,
sem que vás cortando
o meio dia com uma
flor azul,
sem que caminhes mais tarde
pela névoa e pelos tijolos,
sem essa luz que levas na mão
que, talvez, outros não verão dourada,
que talvez ninguém
soube que crescia
como a origem vermelha da rosa,
sem que sejas, enfim,
sem que viesses brusca, incitante
conhecer a minha vida,
rajada de roseira,
trigo do vento,
E desde então, sou porque tu és
E desde então és
sou e somos…
E por amor
Serei… Serás… Seremos…"
( Pablo Neruda )