segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

TODO VAPOR AO ABISMO



Amei-te como a chuva que vem
Que despenca sem rumo
Levada pelos trilhos do inconsciente
Tomando acento em algum trem.

Eras a música de toda a poesia
A goteira da calha sobre o balde
Cheio de chuva e de lágrimas
Do abraço (o amasso) que envolvia.

Amei-te quando naquele vagão
Ao som das locomotivas ardentes
E da explosão de vapor de lágrimas
Pulsando em brasa de carvão.

As horas em trilhos corridas
Não cabem nas cheias vasilhas
Da nossa transbordante consciência
E caem no buraco das nossas feridas.


...
Escrito em 26/01/2012

2 comentários:

  1. " Ínterim"


    Vou deixar meus lábios sobre os teus esta madrugada.
    Deixarei-me nua como uma rosa, sem espinho, entre teus pelos.
    Juro não o ferir com palavras ásperas,
    não transformar suspiros em agonia e silêncios em ironias.
    Vou me abandonar em você como um náufrago ao mar,
    sou a tua incógnita da qual tem mais certeza na vida,
    e me quebrar como a onda na rocha do tronco desorientado
    é natural, não tema;
    não perco tempo quando busco seus grandes e verdes olhos sonolentos,
    como uma errante que se guia pelo cruzeiro, à noite
    Num louco navio.
    É desígnio.

    Sou menos que predadora ou presa,
    em você eu sou apenas uma fêmea frágil,
    quando treme de tesão,
    sou cristais expostos a sismos em ilhas do pacífico.
    Meu coração está cansado, todavia, indene, misteriosamente,
    aos teus cuidados eternos e irresponsáveis.
    E se você o machuca arrastando pelo asfalto
    de vacilos e medos irascíveis,
    perceba ao se olhar no espelho:
    meu coração é o pássaro enjaulado dentro do teu peito vazio.
    No ínterim, em que cuida de um frio e insosso coração ao lado,
    o meu ufano e quente é teu; pulsando em desprezo,
    você o nega, mas não muda, luta e chuta
    Produz a própria debilidade
    ao negligenciar a carne que traduz a tua também sensibilidade.

    Esta madrugada tem a natureza da eternidade.
    Sinto nosso beijo em palavras, nossa dança no silêncio do nada...
    Esta noite boreal, em que recordo,
    te afago de mansinho contra meu peito inflado de vontade...



    É saudade.






    Cibele

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  2. "Talvez

    Talvez não ser,
    é ser sem que tu sejas,
    sem que vás cortando
    o meio dia com uma
    flor azul,
    sem que caminhes mais tarde
    pela névoa e pelos tijolos,
    sem essa luz que levas na mão
    que, talvez, outros não verão dourada,
    que talvez ninguém
    soube que crescia
    como a origem vermelha da rosa,
    sem que sejas, enfim,
    sem que viesses brusca, incitante
    conhecer a minha vida,
    rajada de roseira,
    trigo do vento,

    E desde então, sou porque tu és
    E desde então és
    sou e somos…
    E por amor
    Serei… Serás… Seremos…"

    ( Pablo Neruda )

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