sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

DIABO, O PAI DO POEMA




(para Cristine Heiselmann Hoffmeister)

As letras do sobrenatural
Apontam lados profundos
Mais até que o pré-sal
O óleo negro de defuntos

Dão conta de diabos
Vivem aqui e em Fobos
Com chifres e rabos
Circulando os globos

- O buraco é de uma linha!
Dizem uns velhos poetas
Também tidos por profetas

-Quiçá o Cão que escrivinha?
Diria uma senhora esperta
Ocultando a palavra certa.

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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

SAUDOSISMO


Com que estranheza sinto saudade
Das coisas não vistas, no local
Que apraz na memória felicidade
O som de fados de Portugal.

Os tangos de Gardel nostalgiam
As saudosas épocas não vividas
Quando pernas se compraziam
Ao olhar seco, o gosto das feridas.

Fados e tangos das tragédias
Dos dramas que jamais vivi
Das camas, do sexo, das comédias

Os restaurantes em que eu comi.
Meias saudades, ou em média
A equação do que não senti!

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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

PALAVRAS IV



(para Tiago A.)

Nunca é demais dizer palavra
Que bata no ritmo cardíaco
E seja ouvida como a lavra
De amor em todo zodíaco.

Também, amigo, não carece
Que se diga tão diretamente
Sobre o brilho que aparece
Nos olhos de quem a sente.

A palavra dita a mais, além
Corrobora com o que é certo
Dá luz para os olhos brilharem

Traz o amor mais para perto
Aduba a terra, sementes caem
Germina vida no papel deserto.

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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

COMPOSSE

Se não tivesse - já - um amor
Daria asas aos seus sonhos
Penetraria dentro de sua dor
Roubaria seus ares tristonhos.

Sem ordem judicial entraria
À força, em imissão de posse
Esbulhando com selvageria
Coração meu, em composse.

Ah! Escura alma que chama
Que me suplica, me implora:
- Vem, me apaga essa chama!

Apertado o meu peito chora
Não conceder amor, oh, Dama
Sou possuído, já, doutra Senhora.


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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

DEUS SOL


De hoje em diante não faltará
Palavra que venha descrever
O quanto o Sol ainda brilhará
Até o poente me anoitecer.

Mesmo quando houver garoa
Umidade ou gotas a molhar
O ensolarado verso (que voa)
Por além das nuvens seguirá.

Expressão ou termo ao Sol
É como chover no molhado.
Todos os dias nasce, é farol
Brilha e me põe iluminado.

Sol, amigo fiel, vou lhe dizer
Que lhe sou grato, de coração
Protagonista do verbo viver
Sem lhe ver, amo-O de paixão.

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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

PAI


Eu nem me sentia à vontade
Ao seu lado, quando antes,
Quando na minha mocidade
Via só com os olhos infantes.

Era tão tolo, e não percebia
A presença desse seu amor
Que de tão doce até escorria
Nesses olhos já de senhor.

Suas lágrimas e seus gestos
Vieram, pois, até este peito
Criaram raízes que manifesto
Agora, pai, o meu respeito.

E eu à vontade permaneço
Ao seu lado todo o instante
Nesse colo me amanheço
Não cresço e quedo infante.

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ANSIEDADE (por Gustavo Soares)


Me maltrata,
Me fere e me preocupa.
Quase mata,
Não espera e me ocupa.

Ocupa a mente e a desgraça.
Nunca mente e nem disfarça.

Me joga na cara o futuro,
De modo que posso tocá-lo.
Me deixa o coração inseguro
E frente a impotência me calo.

Ah, como é tosca a nossa razão
Humilhada diante do tempo!

Ah, como é besta esse nosso coração
Que se prende acelerado a um momento!

Ah, Deus!
Que consideração!
Por que nos deu essa terrível mania
De sofrer por antecipação?

(GUSTAVO – STU – SOARES)

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

VENTURA



O urrar dos ventos avisa sorte má ou boa
No despentear dos cabelos à dita futura
Cantar incerto de anjo que no ouvido soa
Avisando sempre de possível má agrura.

Lançada é a sorte a todos os vários cantos
E o carecedor de merecimento a procura
Em vão, conquanto que vive em prantos,
Culpando aos céus da sua própria tortura.

Ao otimista e caridoso os ventos avivam
As velas como diesel ardendo em fartura
No motor bravo, forte, pulsante ativam

As forças universais, os éteres da candura
Para a melhor sorte. Doutro lado derivam
Os barcos sem comando rumo à negrura.

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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

ANJOS INCENDIÁRIOS

ANJOS INCENDIÁRIOS

Totalmente impedido de paixão
Novos confrontos extra-internos
Distante de cometer uma traição
Reviver o fogo dos meus infernos.

Ilidido por força de cunho moral
E, acima de tudo, por ela merecer
Não mais percorrer caminho mau
Nunca mais eu fazê-la entristecer.

As forças deste mundo sobre mim
Vêm com força, fazem-me assim
Sopram com força toda essa brasa

E ateiam o delicioso ardor (ruim)
Num rosto másculo, anjo sem asa
Lançam fogo na paz (da minha casa).

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OTIMISMO


Tudo compraz em ser muito belo
Ao olhar de satisfação abundante
Mesmo ao objeto em si tão singelo
Beleza haverá em viver radiante.

E radiará a ternura pelos ventos
Que circularão o mundo! Levará
Consigo a energia dos momentos
Contento, que feliz se conduzirá.

Energia e magnetismo positivista
Atrairá para si todo o seu inverso
E formará a grande onda otimista

Que tomará conta do universo
Pela estrela que poderá ser vista
Em todo sorriso, em todo verso!

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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

DOIS EM UM


Só de lhe imaginar sinto o estômago
Fechando forte, apertando em gelo
As ideias de tê-la em meu âmago
No cerne de mim, na pele, no pelo

Arrepiado de pensá-la tão minha.
Mas me corrói também o fato
De que não posso ter na vinha
O corpo seu; só a alma, sem tato.

Não esqueçamos o seguinte, amor
Que há a possibilidade do Eterno
Onde teremos todo o infinito a favor

E por isso esse meu gelo interno
Aquecer-se-á no seu fogo, no calor
Do seu esbelto ventre materno.

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terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

SERRA DO MAR



Fevereiro na Serra do Mar
Não existe em lugar algum
Um verde tão verde no ar
Só em fevereiro, mais nenhum.

E quem não viu que vá ver
Pois é o mais curto mês
Tão breve em romper
Os dias do cenário montanhês.

 Aquarela tão densa
Intensa floresce em vida
A vegetação forte espessa
Com as copas altas bem floridas.

Só mesmo em fevereiro
E só na Serra do Mar
O verde e rosa arteiro
Salta-nos aos olhos para sambar. 

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

UM SONHO DE POEMA


Os sonhos são em preto e branco
Quase sempre, não sei se o são
Mas certo é que nesse flanco
Há letra e palavra sem coloração.

Sonhos são curtos, ou bem longos
Dependendo dos seus motivos
Mas certo que ora são ditongos
Ora são verbos ou substantivos.

Às vezes sonho com uns escritores
Homens imortais que morreram
E sonho também com os atores
Ditando o que eles escreveram.

Tem sarau e poema nos sonhos
Rimas, versos e muita cultura
Têm cores, por vezes, suponho
Certo, porém, é que é literatura.

POEMA-DEPENDENTE II

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Poema, ladrão de alma benevolente
Que carrega consigo a força interior
Do seu devoto súdito dependente
Que posta rimas de classe inferior.

Delinquente das palavras e das letras
Devolva-me a vida que tinha outrora
Quando só sonhava com os etcéteras
E as reticências não cruzavam a aurora.

Tempos bons os idos fora da poesia
Quando para mim o mar era só água
Que expirava na praia e a maresia

Era apenas vento! Não essa fantasia
Criada no limbo escuro sem trégua
De versos metrificados em demasia.

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MAU DIA


Há pessoas que carregam o mundo
Em suas franzinas amiúdes costas
E buscam um suspiro lá no fundo
Para dizerem rudezas, féis, bostas.

A insatisfação é companheira diária
Amiga inseparável de todo momento
E quando se sentem, então, solitárias
Correm logo atrás de outro tormento.

Morro em gargalhadas por assim ser
Carrancudo semblante de gente assim
Testa franzida, olho para elas a dizer:
- Olá, péssimo dia, tenha um dia ruim!

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

RECEITINHA FELIZ

RECEITINHA FELIZ

Acrescente à vida um toque
Uma contente pitadinha
Se Salsa, Samba e Rock
Saia e dê uma dançadinha.

Depois acrescente aos poucos
Doses leves de condimento
Asas de anjos e olhos de loucos
Junte tudo e adicione cimento.

Em uma forma pequena
Ponha a massa e polvilhe com queijo
Sorria aquecido, dance com poema
E delicie a vida com beijos.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

CORES


Contrasto-me, por vezes, em ser
A verde pincelada no mar vermelho
Quando meu olhar põe-se a ver
Uma lágrima de sangue no espelho.

As cores universais se misturam
Desde a face triste à exultante
Nos semblantes que me figuram
Cores maduras ou tons infantes.
                                                                         
Umas vezes me pintei menina
Com cores sensuais e batom
Outras me coloquei lamparina

E alterei os pigmentos e meu tom.
Cor de todo o jeito que se imagina
Camalear dia-a-dia é meu dom.

O VOAR DAS BORBOLETAS



Chegará o dia do fim anunciado
Quando as borboletas libertas
Sairão em rumo ao insaciado
Desejo de voar à praia incerta.

Hão de pousar em muitas flores
No caminho dos seus caminhos
E proliferar a vida e seus amores
Com mil poemas em pergaminhos.

Borboletas – seres estupendos
Vão! Eu as liberto! Sim, liberto
Mesmo que cá quede adoecendo

Coração que fora seu, por certo
Mas no ruflar de asas irá batendo
Por confiar que estará por perto.

(na imagem aquarela de Wilma Barsotti)

AUTO RETRATO II


Uns olhos verdes que me chocam
Tem esse amigo; pois lhes digo
Que é homem no qual brotam
As bandeiras da justiça; bendigo!

Mas, ah! Sempre há! E haverá
Algo a relatar sobre este amigo
Que não só o bem; É, existirá
Algo no seu íntimo. Um perigo?

Não se tratará de algo a temer
Pois sua benevolência é maior
Do que todo o mal possa fazer
E é sempre melhor do que pior.

Entrementes tem; Ah, sim, há!
Um “quê” oculto nas entranhas
Desse rosto, do olho que olhará
Para fora de si co´a íris castanha.

Sim! Duas cores têm esses olhos
Dois eus, como a mim, há de ter
Dentro de si escondidos abrolhos
Que nesta mutação se pode ver.

Porém, no fundo o que importa
É que seu males a si não infecta
Pois em passe de mágica exporta
Para os olhos de um outro poeta.