Certo dia eu avistei um flamingo
Chorando de bico afiado
No meio da tarde de domingo
Rugindo, não tinha piado.
Ave estranha de postura
Estatura alta, pernalta
Lateralmente a procura
Voo adiante que salta.
Cegonha cor-de-rosa
Que vivia alí aos bandos
No convívio em prosa
Movimento de cabeça brando.
Questionei dita ave
Da estranheza de estar só
Respondeu-me quão grave
Seu caso de dar dó.
Flamingo posto, abandonado
Cuidava sozinho do lago
Seu bando havia migrado
Hoje ficou sem afago.
Na sua mente um desejo
Antes que lhe venha a idade
Apenas por um lampejo
Um indício de amizade.
“Além do Rift Valley”
ResponderExcluirUma árvore nua
Que não faz sombra,
Ali me recolho,
Enovelando meus pensamentos,
Achando que posso daí tecer
Algo que me faça esquecer
De você.
Sentimentos inopinos,
Lagos profusos
Salgados de lágrimas.
Lagos doces oclusos
De amor que lhe restava.
Eu sinto falta
De suas águas,
Do chorar corrosivo e cristalino
Desses seus olhos folhas de citrinos.
Meu poeta,
Faz-me falta.
Falta-me nos poemas que rezo.
Falta-me em Florbela.
Falta-me em Neruda.
Falta-me em meus próprios poemas.
Falta-me em tudo.
Minha plumagem se tornou cinza
Como tem sido os dias.
Impio destino
Para um Flamingo.
Agora,
Além...
Vago.
Voou
Procurando vales virtuais.
Adejo
Por outras palavras
Em outros versos,
Mas é iluso.
Iludo-me lê-lo em “outros”.
Meu intelecto não o terá jamais.
De nada sei,
Nem que ave sou mais.
Arremeto-me por vendavais.
Estou distante de ti
Que por pouco tempo tive
Também distante
E amei,
Estou além dos lagos,
No Vale do Rift.
Além daqueles poemas de sais.
Cibele Oliveira 12-11-2010