sexta-feira, 26 de novembro de 2010

PARA UM FLAMINGO


Certo dia eu avistei um flamingo
Chorando de bico afiado
No meio da tarde de domingo
Rugindo, não tinha piado.

Ave estranha de postura
Estatura alta, pernalta
Lateralmente a procura
Voo adiante que salta.

Cegonha cor-de-rosa
Que vivia alí aos bandos
No convívio em prosa
Movimento de cabeça brando.

Questionei dita ave
Da estranheza de estar só
Respondeu-me quão grave
Seu caso de dar dó.

Flamingo posto, abandonado
Cuidava sozinho do lago
Seu bando havia migrado
Hoje ficou sem afago.

Na sua mente um desejo
Antes que lhe venha a idade
Apenas por um lampejo
Um indício de amizade.

Um comentário:

  1. “Além do Rift Valley”


    Uma árvore nua
    Que não faz sombra,
    Ali me recolho,
    Enovelando meus pensamentos,
    Achando que posso daí tecer
    Algo que me faça esquecer
    De você.
    Sentimentos inopinos,
    Lagos profusos
    Salgados de lágrimas.
    Lagos doces oclusos
    De amor que lhe restava.
    Eu sinto falta
    De suas águas,
    Do chorar corrosivo e cristalino
    Desses seus olhos folhas de citrinos.
    Meu poeta,
    Faz-me falta.
    Falta-me nos poemas que rezo.
    Falta-me em Florbela.
    Falta-me em Neruda.
    Falta-me em meus próprios poemas.
    Falta-me em tudo.
    Minha plumagem se tornou cinza
    Como tem sido os dias.
    Impio destino
    Para um Flamingo.
    Agora,
    Além...
    Vago.
    Voou
    Procurando vales virtuais.
    Adejo
    Por outras palavras
    Em outros versos,
    Mas é iluso.
    Iludo-me lê-lo em “outros”.
    Meu intelecto não o terá jamais.
    De nada sei,
    Nem que ave sou mais.
    Arremeto-me por vendavais.
    Estou distante de ti
    Que por pouco tempo tive
    Também distante
    E amei,
    Estou além dos lagos,
    No Vale do Rift.
    Além daqueles poemas de sais.

    Cibele Oliveira 12-11-2010

    ResponderExcluir