quarta-feira, 29 de setembro de 2010

BOLA DE MEIA

Vestiria a base de um ser
Conforto e calor
Fosse por amor daria mais, até
Quedaria inerte ao odor da fossa
Seria o que sou
E Daria alegria a um pé descalço
Mesmo pé, aliás
Que me chuta, rola-me e me quica.
E a alegria do gol: Indescritível sensação!

terça-feira, 28 de setembro de 2010

ÁS DE ESPADAS

Ah, teimosia! Sujeito tenaz!
Nada conclui com nitidez
Ardiloso argumento, falaz
Não é tabuleiro de xadrez.

O que reza me é ineficaz
Quando impõe sua robustez
Em mim me é fugido, fugaz
Não me adapto à sordidez.

Reconheço que é sagaz
Jogador forte em solidez
Inteligente, rápido e capaz
Mas a mim com escassez.

Acintoso, indivíduo audaz
Impõe-se sem polidez
Apenas por ser contumaz,
Aproveita da minha timidez.

Mas empunho a espada vivaz
E derrotado sou outra vez
Quando sou Rei você é Ás
Círculo vicioso, eterno freguês.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

ESPELHO DE AÇO

Onde olhas o que vês? Enxergas a sujeira alheia
Revolta-te com o argueiro no olho de teu irmão?
Farta-te orgulhoso com a comida aprazível da tua ceia
Mas não és capaz de sentir a trave em teu coração?

Hipócrita, não percebes tamanha essa insensatez!
Olha firme diante deste pesado vivo espelho de aço
E pergunta a ti mesmo, com hombridade e honradez:
“Que pensaria eu, se visse alguém fazer o que faço?”


(parafraseando Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo X, itens 9 e 10, que é baseado em MATEUS, cap. VII, vv. 3 a 5).

CIRURGIA


Arrastado por rodas ao centro cirúrgico
Queimado fui no que achava ser dignidade
Cauterização, ato psicocirúrgico
Extensos corredores, cheiro de éter e insanidade
- belo interminável pós-operatório! És litúrgico!
Maldita verruga da minha mortandade!

NOITE TRANQUILA

Busca, pois, não abalizar o erro dos outros
Indulgência sempre, sem o dedo apontar
Para a cara deste, ao débito daqueloutro
Pois que muito defeito tens a modificar.

Por que somos impetuosos, clarividentes
Em relação ao próximo e cego de nós mesmos?
Temos que aceitar nosso íntimo dignamente
Limpar nossa alma e aliviar-nos a esmo!

Não, não podemos a primeira pedra atirar!
Não podemos olvidar, dar sequer um cochilo.
Fecha os olhos e perdoa invés de criticar
Sê bom, fecha os olhos e dorme tranquilo.

(parafraseando Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo X).

terça-feira, 21 de setembro de 2010

ALAGOAS

Mar, areia e coqueiro.
Coco, areia e água.
Ventania quente incessante.
Velas ao longe (em pé canta o Jangadeiro).
Visão paradisíaca,
(vista do Céu)
Azul-mar, azul-céu,
Ou é verde-mar, praia alviverde?
Jardins Não-Suspensos das Alagoas!

PRAIA DO CARRO QUEBRADO

Branco, pastoso como magnésia
Do cinza ao marrom é a terra
Capricho da natureza na falésia
Onde a maré bate e encerra.

O mar verde, ora marrom-opaco
Traz para cima e para baixo
As coloridas areias do belo saco
Com estrondoso som contrabaixo.

Orla linda, límpida e cintilante
E paredão imponente escavado
Artístico lapidado em diamante
Vejo-te, Praia do Carro Quebrado.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

DÍVIDAS


Funestos carmas advindos de outras vidas
Sangram esse coração humano, ateiam fogo
Moem, destroem e corroem nossas feridas
Intensamente doendo e eternizando esse jogo.

Venho de séculos para pagar minha dívida
De léguas caminhando à procura de paz
Carregado de culpa por débitos na alma jazida
Encarno e desencarno com vontade sagaz.

Reencarno e toda a vida que nova começa
Traz a ferida de outrora sentida em pulsar
E minha alma dolorida, questiona modesta:
- Quanto ainda será que lhe devo pagar?

(edvaldo pereira dos campos netto)

terça-feira, 14 de setembro de 2010

POEMA IGNORADO

Do que me importa não leiam meu poema?
Nunca quis mesmo dar vida a um personagem
Ou ser, ter forma, rimar, refletir minha imagem.
Nasci pra isso, só viver, diferenciar e ser fonema.

Teria a vida que seguir roteiro, que ter tema?
Sempre imaginei estar aqui apenas de passagem
Sem saber se deveria compor alguma mensagem.
Não vim explicar, escrever ou causar problema.

Eis que me deparo – enfim – com este dilema
Com o paradoxo entre minha cerebral curetagem
Ou em permanecer com as idéias sem postagem.
Então: - que me importa não leiam meu poema?

(edvaldo pereira dos campos netto)

BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS


Nossa devassa obsessão material
Nossa cruel dúvida sobre o futuro
Ocasionam nossa covardia moral
Impõe-nos o sombrio, o escuro
Designando o futuro ao Umbral.

“A loucura se deve à comoção
produzida pelas vicissitudes”
que o homem não suporta são.
A descrença modifica as atitudes
Dando indiferença ao coração.

Respostas se dão numa indagação:
“Se eu houvesse feito ou deixado
de fazê-lo, estaria nesta condição”?
Mas nos é mais fácil culpar o Sagrado
A entender donde vem tamanha aflição.

(Embasado no Capítulo V do livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec – citações da mesma obra).



quinta-feira, 9 de setembro de 2010

DO AMARGO ESQUECIMENTO



Nunca te olvidas de ninguém?
É, pois, por saber quão doloroso
Tratar outrem com desdém
Pondo-o no incerto e duvidoso.

Alguma vez fez por olvidar?
Deu pena dolorosa a´lgum ser?
Foste faca pontuda a´punhalar?
Fez alma desesperada esmorecer?

Dize ou não se te tenha doido
Foste ou não foste perturbado,
Por vez foste disso socorrido?

Ou permaneceste mui deprimido?
Sabe tu: - Pior que ser desprezado
Só mesmo é ser esquecido!

(edvaldo pereira dos campos netto)

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

INVERNO CURITIBANO (ao IPÊ-AMARELO)




Primavera doce linda esverdeada
Brota os sentimentos em primazia
Florece encantos com arrrebatada
Paixão mesclada do real à fantasia.

O outono da vida nossa transforma
Mata, entristece e seca a galhada
Do alegre ao triste vem em reforma
De modesta à imagem assombrada.

Ah! Setembro nosso de cada ano
Dai-nos encanto, fé e esperança
Dá vida e mui alento ao profano

Livra-nos deste tão gélido cotidiano
Ourives lapidando alma de criança
Enche de amarelo esse peito humano!

(edvaldo pereira dos campos netto)


quarta-feira, 1 de setembro de 2010

A VOLTA


Saudade deste pedaço de véu
Da angústia de estar no percalço
Escondido em linhas de papel
De peito frio e duro como aço.

Quem sabe chegaria eu ao céu
E novamente escreveria (viveria)
Vida a grafar além do mausoléu
Feliz e satisfeito então morreria.

Queria eu retomar meu escrever
Ah! Vida minha, quanto eu queria
Continuar seguindo a linha a tecer

A bela poesia sairia da aflita agonia
Ao coração em púbere amanhecer.
Eu escreveria, escreveria, escreveria...

(2001, dias antes de uma separação judicial)