quarta-feira, 29 de junho de 2011

BEM MAIS DO QUE GOZAR




Entre o edredom e a fronha
Despindo-se ávido ofegante
Coisas de causar vergonha
Passado momento delirante.

Entre nós, meu corpo e o seu
Repousa calmamente o nada
Se já sou seu e seu eu é meu
Somos a única parte de cada.

Êxtase elevado sendo aturado
Carga máxima da eletricidade
Fissão atômica desse mesclado

Órgão pulsante na saciedade
Além da matéria e seu estado:
Dois delírios de sublimidade.



Foto: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7f-zi73aQj0qcI89mMgG1dHAr9XT_E9AYxSfRNpRHhGHKQRbe5C0XGKz1_GV2TeVYDJO7SiBLy3RatKM0nU_g8a4-J9-Ti1gT8D139DqhGxjAG0Dt31xIO540wJ-QKiDgGC-dEtOOR5ue/s1600/erupcao-vulcanica.jpg

GAROA


Latente, cai silenciosa a garoa.
Dizem: “uma tal de molhar bobo”!
Abobados ou bestificados
Molhados ficamos todos.

A garoa é a chuva que não caiu
Não queria ser chuva,
Nem tão somente ar
Queria ser gota, voar e molhar!


Foto: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCEbaRImevRp3hYkTFChbLdH4VyEFoQeIXc9dGwOyovfrPV-O92fmWzs7JBX204hkVgP26RNR4xNGNvwx8SwB84kaeAVyDVhRcHONgEZ2i1cWXWkYHSnbWmsNMx7ySXc7LOOMziQVIeWlr/s320/DSC09253.JPG

DA PRISIONEIRA ENCARNAÇÃO

Hoje o céu lá fora está mudado
Não tem mais o azul de ontem
Nem a luminosidade
Ou a claridade que detinha
(anda apagado o zimbório terreno).

Hoje, lá fora,
Tem algo diferente
Além da cor do céu...

Um lamento jaz aqui!

Nem ontem, nem hoje
Atravessei a barreira da janela
Nem fui a pé até aqueles verdes montes

Não passei do vidro dos meus olhos...
...não flutuei para perto do céu.


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terça-feira, 28 de junho de 2011

PINTURA DE PAISAGEM



Com que ângulo vejo
Avisto a vida da janela
Ou detenho-me no muro sem vida.

Um pinheiro ao longe
Telhado carecendo pintura
Fios de alta-tensão
A tensão da mais alta angústia.

A vida corre lá fora
A vista vai dali até ali...

O céu, todavia,
Dá espetáculos diários de roupagem
(camaleão celeste!).

Descrevo o que vejo
Conforme o ângulo que enxergo.

O leitor... bem, o leitor que imagine como quiser!


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segunda-feira, 27 de junho de 2011

DA VIDA IRREAL


Canta-se em estradas sinuosas
Músicas de roda, canções de ninar
Desde fadas a bruxas monstruosas
Faz-se fantástico o caminho a trilhar.

Frente à igreja de luzes reluzentes
Acelera-se, ritmando as canções
Dragões impõem-se com seus dentes
Em dilacerar sorrisos e emoções.

Anda-se e se corre por demasiado
Vive-se muito além do sensato
Num mundo colorido e enfeitado

Contra a ânsia, inda não vomitado
Na tangência, sentimento mediato
Sem com o asfalto se ter contato.




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quarta-feira, 22 de junho de 2011

DOIS


Teoricamente, só dois bastam
Dois versos em dois segundos
Tão próximos que se afastam
Para se unirem de tão fecundos.

Dois movimentos, duas ações
Dois corpos formando um só
Sem fronteiras, nem repartições
Um concerto de Vivaldi em dó.

Teoricamente bastam só dois
Um segundo agora, um depois
Uma vida vivida por inteiro

Com seu par, com seu meeiro
Já que bastariam apenas dois
Eu e você num só paradeiro.


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segunda-feira, 20 de junho de 2011

ARAUCÁRIA



Araucária em fim de tarde
É abertura desenhada no céu...

O céu, ao fundo,
Ruborizado,
Apaga-se lentamente.

Não saberia dizer se ferido pela contundência
Ou se envergonhado frente a tamanha beleza.



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ARCO-ÍRIS

Atravesse o céu
 - lado a lado –
Em uma grande parábola
Um convexo movimento.

Deslize até o pote de ouro
E se esbalde neste rico mergulho.

Seja a luz
Seja a cor
Seja o reflexo.

Em mim seja a gotícula da chuva
Em mim penetre sua luz
Em mim, a possibilidade de rodar o céu.




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terça-feira, 7 de junho de 2011

INFINITO



O tamanho do segundo
Frente a esse mundo
É como a breve hora
Por todo universo a fora.

Nossos anos já vividos
São breves sonidos
Ondas do som solar
No universo a atravessar.

E a gente acha bastante
Esperar por um minuto
Impacientar todo instante

Sem pensar no absoluto
Quanto tudo é gigante
Infinito, onde se é soluto.



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TROVA CELESTIAL


Do alto as vozes alvoroçam
Canções e melodias celestes
Poetas terrestres as trovam
Bons sons nos vêm agrestes.

Anjos que sopram nos ouvidos
Da medianeira bela escritora
Fazem-se em músicas e sonidos
Pela manhã, desde a aurora.

Cântico regido por macias mãos
Dá vida, põe pinha na araucária
Traz à terra o broto dos grãos
Umedece a árida vida agrária.

Vem de cima e sopra agora
Os cantos e as rimas de Deus
No papel, ou pelo mundo a fora
Toda esperança que Ele nos deu.

sábado, 4 de junho de 2011

POEMA DAS NUVENS



Todos são, em verdade, poetas,
Mas, veja, nunca o assumem!
É como esconder suas facetas
Em tantas formas de nuvens.

Admitir um sentimento sublime
Face aos gracejos do preconceito?
Rá! Diga lá aquele que assume
Ser pai do verso, de tê-lo feito...

E as nuvens vão alterando a forma
E os versos engavetados quedam
Eternizados na folha que lhes adorna
Forma única para sempre enredam.

Mas e daí? Ser poema de gaveta!
Não ter pai, nome e assinatura?
As nuvens se desfiam feito careta
E vão tomando sua forma futura.

Os poetas de nuvens seguem
O caminho das formas diversas
Nos versos em que se neguem
A si, ao texto, na nuvem dispersa...


XXX...XXX